Em um ambiente de aversão ao risco, torna-se fundamental demonstrar resultados em menor tempo, cortar gastos e assegurar retorno de lucros.
Juros altos, inflação batendo recordes, cautela nos investimentos. Esse cenário macroeconômico afeta o mercado global e o Brasil liga o sinal de acendendo alerta para as startups. Uma das áreas que mais sente os impactos desse novo momento é o mercado de Venture Capital (VC) ou Capital de Risco, a modalidade de investimento que tem foco em empresas pequenas e de médio porte que têm alto potencial de crescimento, mas são recém-criadas e ainda não faturam bem.
Após um recorde de movimentação em 2021, o mercado de VC acumula quedas de investimentos de índices no primeiro trimestre de 2022, em relação ao último trimestre de 2021. A queda brasileira chegou a 27%, comparando os últimos três meses do ano passado e os primeiros deste ano, um total de R$ 6,4 bilhões. Os dados mostram que novas captações estão menos favoráveis e, ao contrário do cenário de juros baixos, inflação sobre controle e alta liquidez, que permitia mais tempo de espera para retorno de investimentos, agora é preciso demonstrar resultados concretos para se manter na boa mira dos investidores.
O ambiente que gerou – em pouco tempo – o surgimento de startups “unicórnios” (as que alcançam valor de mercado acima de um bilhão de dólares, antes do IPO, num modelo de crescimento rápido e agressivo, mas sem geração de lucro) não existe mais. Isso não significa o fim desse modelo, mas a constatação que alguns fatores importantes mudaram drasticamente. Com um ambiente global inflacionário, de juros altos e baixa liquidez, a espera pela geração de lucros não pode mais ser tão longa.
“Lucro não importa”, “estamos investindo baseados no valor futuro da empresa” ou “precisamos crescer a todo custo” são frases que desapareceram do ecossistema. Os reflexos do cenário que emergem já são visíveis e alguns unicórnios brasileiros, como Facily, Creditas, Loft e Quinto Andar acabaram de realizar processos de demissão em massa. Obviamente, precisaram reestruturar a operação para se adequarem a um ambiente de capital escasso e evitarem um downround futuro.
Unicórnios, Zebras ou Camelos?
A capacidade de adaptação dos startups camelo pode ser mais propícia atualmente, sem que o fato de crescer muito e rapidamente seja a principal prioridade. As startups camelo se caracterizam pelo eficiente uso do planejamento, avaliações criteriosas de riscos, geração consistente de resultados e flexibilidade na gestão de recurso, o que pode ser um conjunto de ferramentas melhor para enfrentar uma fase de menor entrada de investimentos.
Outra espécie desse “zoológico do mercado” que se destaca positivamente nesse momento de queda de investimentos, são as startups zebras. A busca pelo crescimento sustentável sem deixar de lado o lucro e ainda oferecendo melhorias para a sociedade, com foco e estruturas bem definidos, agrega confiança e pode assegurar confiabilidade em tempos de incertezas e flutuações.
Nesse momento, a startups precisam priorizar iniciativas que garantam mais liquidez e rentabilidade, além de retorno do investimento a prazos menores. É fundamental ter sustentabilidade desde o início porque a fonte abundante de investimentos está mais seca. Nessa linha, é preciso avaliar a necessidade de atualizar o plano de negócios, levando em conta essa nova conjuntura de tendência real de juros altos no curto e médio prazo, além de outras reavaliações e corte de custos, como diminuição de contratações, redução de salários, moderação no investimento em estrutura e expansão.
INVESTIMENTOS para população MINORIZADA
Para os fundadores negros brasileiros, passar no pente-fino de investidores e garantir capital para seus negócios já não era uma tarefa fácil. Nos Estados Unidos, não é diferente, os negros fundadores de startups também enfrentam muito mais dificuldade em levantar dinheiro do que seus concorrentes brancos.
A Fundação Ewing Marion Kauffman, instituição de caridade com sede no Missouri que promove educação e empreendedorismo, entrevistou mais de 500 fundadores e descobriu que investidores externos colocam cerca de dois terços do dinheiro de que os proprietários de startups brancas precisam para começar seus negócios, enquanto os proprietários negros tiveram de colocar mais da metade do próprio bolso. Em média, 17% dos financiamentos para startups brancas vieram de investidores. Para as fundadas por negros, só 1,5%
A familiaridade com essa dificuldade de conseguir investimentos pode ser uma diferença positiva se combinada com a busca de excelência, ajustes para oferecer melhores resultados em prazos mais curtos. A resiliência para entrada e permanência no mercado, que já era um fator requerido e desejável em cenários melhores, não é novidade para fundadores/as negros/as.
Agora é o momento de revisar projetos, potencializar o retorno em prazos mais curtos seja com corte de despesas, racionalidade na folha de pagamento – o que pode e deve ser feito sem demissões, identificando como crescer com resultados sustentáveis e, na medida do possível, sem uma grande dependência de aportes volumosos e constantes. O dinheiro está mais caro, podemos dizer que está sumido mesmo. Investidores procuram mais segurança de que o lucro chegará e que virá com maior velocidade e esse é o filtro para sobreviver e avançar no mercado, mais que nunca, vale criar e manter os meios que permitem combinar crescimento, sobrevivência e resultados.
Via InvestNews.
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