O ano de 2021 foi especial para o mercado de fusões e aquisições (M&A) no Brasil. De janeiro a outubro, atingimos o recorde histórico de 1.356 transações anunciadas, contra 1.038 em 2020, e 802 de janeiro a outubro de 2020. Esse boom do mercado teve como mola propulsora a pandemia de Covid-19, que forçou as empresas a reverem os seus planos de negócios e as suas estratégias para se adaptarem aos efeitos da crise. Nos setores negativamente afetados, as empresas foram levadas a buscar movimentos de M&A para sobreviver e manter suas atividades.
Já nos setores impactados positivamente, as organizações buscaram oportunidades de crescimento, expansão, diversificação e criação de valor aos sócios por meio de aquisições. Um dos setores que mais contribuiu para a economia brasileira nos últimos anos, em especial durante a crise de Covid-19, foi o do agronegócio. As safras recordes dos últimos dois anos, o crescimento da demanda global e os preços das commodities vêm puxando o crescimento forte do setor em todo o mundo, o que beneficia esse segmento tão importante para o Brasil e, como consequência, atrai o interesse de investidores nacionais e internacionais.
Os M&As no Agronegócio (incluindo as empresas de tecnologia, as agtechs) comprovam essa tendência. De janeiro a outubro, tivemos 41 transações anunciadas no Brasil, contra apenas 11 no mesmo período de 2020 — um crescimento de 272%. Se isolarmos as transações envolvendo as agtechs, esse crescimento é de 78% — 16 transações entre janeiro e outubro deste ano, contra nove no mesmo período no ano passado.
A maioria desses movimentos inorgânicos de crescimento via aquisições em 2021 (cerca de 87%) foi feita entre organizações brasileiras (investidores brasileiros adquirindo empresas-alvo brasileiras), o que demonstra a clara estratégia de consolidação para crescimento e ganho de eficiência operacional, buscando, assim, o fortalecimento da indústria local.
Nota-se também que a maior parte das transações de M&A no agro em 2021 (cerca de 61%) foi feita por investidores estratégicos, ou seja, aqueles que já atuam no setor e veem as aquisições como movimentos de longo prazo. Mas, pela ótima expectativa de performance nos próximos anos, o setor atraiu também investidores financeiros (principalmente dos fundos de private equity e de bancos de investimentos) que foram responsáveis por 39% das aquisições, cuja estratégia é a de rentabilizar os negócios e buscar o desinvestimento no médio prazo.
Olhando apenas as transações de M&A envolvendo as agtechs em 2021, percebe-se que 88% tiveram investidores brasileiros e que 56% envolveram investidores financeiros. No agronegócio, há uma diversidade de interesse dos investidores quanto aos subsetores. Não só nas transações de M&A anunciadas, mas, especialmente, nas interações e análises setoriais feitas com os nossos clientes, verificamos um óbvio interesse nas agtechs e em empresas de produção de insumos agrícolas (fertilizantes, defensivos, máquinas e equipamentos), distribuição de produtos agrícolas, operação e logística de grãos, agroindústria (em especial de proteína animal), produção de frutas e serviços dedicados.
Esses investimentos nas empresas do agronegócio carregam como estratégia principal a busca pela eficiência operacional, os ganhos de produtividade e qualidade dos produtos, a automação dos processos operacionais, a otimização dos recursos, das áreas de plantio, dos processos de colheita e produção, entre outros. Os investimentos deverão continuar a ocorrer de forma crescente nos próximos anos, já que as tendências que suportaram o crescimento do setor permanecerão válidas e as novas tecnologias deverão trazer mais rentabilidade e eficiência.
Na perspectiva das agtechs, a implementação da tecnologia 5G no Brasil, as soluções que serão desenvolvidas por meio dela e as perspectivas de conectividade no campo trarão uma revolução ao agronegócio, impulsionando ainda mais os negócios no setor e atraindo mais investidores. Com todo esse contexto, não seria ousado prever um forte crescimento das transações de M&A no agronegócio nos próximos anos.
Via Diário do Comércio.
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